Estou sentada embaixo de árvores que permitem que os 30ºC de Brasília fiquem um pouco mais amenos. No meu colo, um prato com a maionese de batata com frango deliciosa da minha tia, picanha ao ponto feita pelo meu pai, arroz e farofa. Para beber, suco de caju. De um lado está minha avó de 89 anos contando que banho frio é o segredo da sua saúde. Do outro, meu sobrinho lindo tendo crises do riso mais gostoso com a minha irmã. À minha frente, minha mãe e minhas tias embalam um papo animado (falado em altos tons, como de costume dessa família tão mineira). Um pouco mais afastado, meu pai exerce seu papel de churrasqueiro oficial da família, sempre atento se eu estou precisando de alguma coisa.
O que pode parecer a muitos como uma típica tarde de domingo, para nós que passamos um tempo fora de casa é um sonho realizado. Quantas e quantas pessoas já não repassaram essa cena tantas vezes em suas cabeças, de como seria a sua volta e quais as primeiras coisas que fariam ou que comeriam, e quais as primeiras pessoas que encontrariam?
Estar de volta é um contraste de sentimentos. É uma contradição constante. É se sentir em casa como nunca, mas é não achar seu lugar. Estar rodeada de pessoas e querer estar sozinha. Ficar sozinha e querer ter pessoas ao seu lado. Não consigo sair de frente do computador, penso em 2 moedas, em 2 horários. Ainda não consigo dormir depois das 22h30, não consigo acordar depois das 7h30. Quando são 10h, me bate uma fome de almoço. E mesmo almoçando às 12h, quando são 14h, lá estou eu com fome de novo.
Procuro o interruptor do banheiro do lado de fora o tempo todo, dirijo batendo minha mão esquerda na porta, procurando a marcha. Sinto mais calor que os outros, bebo água o tempo todo (sempre abrindo a torneira primeiro, antes de lembrar do filtro), acho esquisito usar short sem meia-calça e sair sem carregar um casaco. Estou ainda impressionada com o tanto de roupas e sapatos que tenho. Me senti um homem quando vi minha sapateira pela primeira vez, com o pensamento de "eu sou uma mulher ou uma centopéia?". E a facilidade para encontrar sacolas plásticas em casa? Isso sem falar na geladeira cheia e na quantidade absurda de frutas e verduras.
Tenho me sentido muito bem em Brasília, o que, por si só, já é um susto. Mas as saudades de Dublin... Isso é algo que não me sai da cabeça. Assim como não me esquecerei de diversas cenas e momentos que vivi nesses 10 meses, não me esquecerei das últimas músicas dançadas, das lágrimas que teimavam em descer, do riso chorado com o Ulgem e o Eric, da noite mais bunitinha, dos últimos abraços... Não me sairá da cabeça a sensação de vazio que ficou logo em seguida à despedida, o choro engasgado quando o avião pousou no Rio de Janeiro, a sensação de que "o sonho acabou".
O sonho não acabou. Ele só se tornou realidade. Hoje trago no coração pessoas que posso nunca mais ver, mais que ocupam um lugar muito especial na minha vida. Trago as lembranças da chegada, do amor que há muito tempo não sentia tão forte, da paciência inacabável dos meus pais e minha irmã, da evolução não acompanhada do meu sobrinho, da esperança de um novo bebê chegando por aí.
A sensação ainda é de dor. Dor em lembrar, dor em se falar, dor em tentar esquecer. Assim como dói não se sentir completamente em casa, não ter muita vontade de encontrar com as pessoas, não ter coragem de deixar a Irlanda pra trás. Mas nada que o tempo não resolva. Ninguém disse que seria fácil. E não está sendo. Mas, se me pedissem, faria tudo de novo. E de novo. E de novo...
* Fotos by Fernando Mesquita
Te amo!
ResponderExcluirÉ Amandinha, estar de volta é osso mesmo... Mas passa, você se acostuma e começa a fazer planos novos denovo. Vai dar tudo certo! Beijos, Ana
ResponderExcluirOlá Amandinha, enfim Brasil ou melhor dizendo Brasília.
ResponderExcluirQue bom que ja está aqui, junto com sua família, é isso ai, curta bastante, pois família é nosso porto seguro.
sei o misto de emoções que está sentindo, um pouco de tristeza, um pouco de alegria e assim vai, mas como tudo passa, daqui a pouco vc ja estará recuperada.Isso que vc está passando, vai acontecer com Ugem e Eric qdo voltarem, mas estaremos aqui para recebê-los tb.fique em paz e divirta bastante, beijos ....Cida