sexta-feira, 22 de junho de 2012

1 ano...

22/06/2011

Acordo depois de uma noite delicinha, olho lá pra fora. Chuva! Qual a novidade, em se tratando do clima irlandês? Respira fundo: Chegou o dia!

Tomo banho. Dá pra imaginar que este será o meu último banho aquecido por um boiler? Que estranho... Lavo o cabelo, lavo o corpo. Olho praquele chuveiro e aquele box como se tentasse esmagar as imagens na minha memória, bem apertadinhas pra elas não saírem de lá.

Vou na sala daquele apartamento que foi meu por alguns meses, naquele em que vivi histórias tão inesquecíveis... Calma! Hora de me arrumar! Ainda não é hora de despedidas (já bastam as de ontem! Nem eu sabia que eu tinha tantas lágrimas). Visto a roupa que já está separada há tanto tempo, em cima das minhas malas já feitas há 2 semanas. Seco o cabelo, faço a maquiagem. Droga de lágrimas que chegaram sem avisar! Chora, chora, chora! Respira e refaz a maquiagem!

Chega a Mari com o Rodrigo. A Mônica tá pronta! O Leandro está pra chegar. Chama os táxis. Desce com as malas. Sem lágrimas dessa vez. O momento é de silêncio.

Coloco as malas no táxi. O Leandro tá atrasado. Nem consigo ficar brava. Até desse jeitinho largado eu vou sentir falta. Ele chega. Entramos no táxi. Não tenho muito assunto. Não tenho muita vontade de conversar. Quero só olhar. Cada casa, cada chaminé, cada pedacinho pelo qual eu passei tanto nos últimos meses e que hoje passam pelos meus olhos deixando uma sensação esquisita. Mais uma vez meus olhos tentam gravar cada cena, cada detalhe. Ainda é difícil acreditar que aquela viagem no táxi é sem volta...
Chegamos no aeroporto e o clima é descontraído. Almoçamos qualquer coisa. Passa longe de ter sido a melhor comida da minha vida, mas eu passo longe de estar sentindo o gosto das coisas. Conversamos um pouco, rimos um pouco e de repente chega a hora de me despedir e, com ela, a sensação esmagadora, a vontade de me agarrar à primeira coluna à minha frente e desistir de ir, o medo, a insegurança... A falta de vontade e de coragem de me despedir.

As lágrimas agora teimam em descer em cascata. Elas já não chegam mais acanhadas. Agora descem sem medo, constantes, aumentando o nó na garganta. Me afogo em abraços com a vã esperança de que eles vão diminuir minha dor. Não diminuem. Só aumentam, por pensar que não terei mais aqueles braços, aqueles cheiros, aqueles refúgios. Entro na sala de embarque chorando compulsivamente, eu e Mari nos sentamos na cadeira por 3 minutos, apenas para respirar e tentar entender tudo que está acontecendo. Acabou...

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22/06/2012

Em um certo dia do ano passado ouvi uma frase que me assombrou por certo tempo: "Quem faz intercâmbio nunca mais é plenamente feliz". Por dias, semanas e até meses acreditei em cada palavra desta sentença, pelo único motivo de estar vivendo na pele a veracidade delas. Cheguei realmente a acreditar que havia deixado minha felicidade no avião da volta, no abraço de despedida, no táxi que me levou ao aeroporto. Lembrei de cada casa, detached ou semi-detached que passou na minha frente na minha última viagem de carro dentro da cidade que me acolheu por tanto tempo. Cada olhar atento meu, como se tentando pescar o máximo possível de detalhes, como se querendo tornar aquele momento eterno. Sentia como se cada uma dessas residências tivesse levado um pedacinho da minha alegria, da minha esperança de dias melhores, da minha ânsia em fazer acontecer!

Hoje vejo o mundo com lentes mais coloridas, com um otimismo que aos poucos volta a me acompanhar em meus passos. Reencontrei boa parte das pessoas que deixei, com tanto pesar, para trás. Outras ainda não encontrei, mas mantive o contato que me garante que ainda nos veremos bastante nessa vida. Vivi reencontros emocionantes, uns talvez mais esperados e fantasiados que outros, mas todos que deixaram a sensação de a despedida ter sido há muito menos tempo, ou mesmo nem ter acontecido. Como se a quebra de 7, 8, 9 meses não houvesse feito tanta diferença assim, ou tenha feito diferença sim, mas pra melhor. Muito melhor!

Hoje a maioria das pessoas que figuram nos topos das minhas listas de mensagens, sejam elas da tecnologia que for (Facebook, Whatsapp, skype...), são oriundas dos meus 10 meses mágicos. As minhas viagens são pensadas com o objetivo de (re)vê-los. Meus planos são feitos com eles. Meu futuro se desenha unindo, acidentalmente ou não, meu destino ao deles.

1 ano...

E que ano!!!! As lágrimas e a angústia ficaram pra trás. Hoje só tenho tempo e motivos pra sorrir!!!!

A Irlanda? Essa é eterna na minha vida e no meu coração! E ela não acaba nunca. A cada dia que passa sinto mais que ela só começou...

1 ano de Brasil! Parabéns pra mim! Parabéns pra vida, que é tão linda comigo! Vamos comemorar!!!

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

All I want for Christmas is you!!!!

Uau! Tanto tempo que não venho aqui, que admito que estou estranhando um pouco o momento...

Sinto muitas saudades da minha ligação quase materna com esse blog. Construir cada post aqui, permitir que meus sentimentos saíssem de mim em forma das palavras mais sinceras, as vezes até meio confusas e perdidas...

Ter este meio de comunicação foi uma decisão sábia. Mas, como disse Caio Fernando Abreu, precisei me afastar de tudo que me atrasa, me engana, me segura e me retém. Me aproximar de tudo que me faz completa, me faz feliz e que me quer bem. Aproveitar tudo de bom que essa nossa vida tem. Me dedicar de verdade pra agradar um outro alguém. Trazer pra perto de mim quem eu gosto e quem gosta de mim também. Ver só o ‘bom’ que todo mundo tem. E, por mais que soe contraditório, precisei me afastar um pouco de tudo que me lembrava esses meses em que eu cresci tanto, porque essas lembranças estavam me atrasando fortemente.

Passada a fase difícil, os dias consecutivos de dúvidas intermináveis, as incontáveis consultas aos sites de passagens aéreas, as lágrimas derramadas e os apertos no coração, a vontade de voltar (ao blog) falou mais alto, e se juntou ao momento de final de ano. Não poderia deixar o ano terminar sem escrever dois posts aqui: o de Natal e o de Retrospectiva. Então, que comecem os trabalhos!

1 ano se passou e foram tantas mudanças que as vezes tudo se confunde um pouco na minha cabeça. Incrível como tenho as vezes umas sensações de déjà vu, algumas vezes me perco um pouco no tempo e no espaço e certas lembranças se misturam na minha cabeça, e eu já não sei se elas pertencem ao Brasil ou à Europa. Mas certas lembranças são tão fortes na minha cabeça, que basta um pontapé inicial para que elas surjam como se nunca tivessem ficado adormecidas. E o meu Natal do ano passado está nessa. Lembro de cada minuto dos dias anteriores à data. A preparação, a decisão de que seria na casa do Eric e do Ulgem, a noite do dia 23 no forró, o sono matador do dia 24, os 11 graus negativos para voltar para casa às 6h da manhã, a neve até o meio da canela, a procura incessante pelo Du (o famoso francês), a sobremesa e as bebidas que não cabiam na geladeira e foram colocadas do lado de fora (e congelaram), Os Christmas Crackers, a maionese maravilhosa, a decoração linda dos meninos, a guerra de neve, o secador debaixo do edredom para dormirmos quentinhos... Enfim, foi uma das festas de Natal mais acolhedoras que eu já passei! E por mais que eu estivesse tão longe da minha família, me senti realmente em casa lá. Afinal, eu estava SIM em família. Minha família da Irlanda.

Hoje tenho o prazer de passar o natal rodeada dos meus parentes queridos. E, estando em contato com meus amigos da Irlanda e vendo a vontade que eles têm de estar em casa agora,não consigo expressar quão grata eu sou por estar tendo essa oportunidade novamente. Famílias têm problemas. Têm doenças. Têm tristezas. Famílias têm histórias que poderiam ser diferentes, que nos dão vontade de ajudar mesmo sem saber como. Têm desentendimentos. Mas mesmo assim, famílias são famílias! São o nosso maior pilar! Nosso exemplo, nosso começo, meio e fim!

Hoje me sinto forte de novo, bem de novo rodeada das pessoas que mais amo! Cada dia mais eu entendo quando meu pai me disse que país não é um pedaço de terra, ele é feito das pessoas que lá vivem. Tenho amado o Brasil cada dia mais como território e cada dia menos como nação. Mas ainda acho que certas pessoas aqui me fazem querer lutar por esse país. E podem ter certeza, minha família faz parte disso!

A todos vocês, um Natal inesquecível! Que essa época seja um pouco menos dedicada aos presentes e à distorção da data, e mais à doação, à esperança de um amanhã melhor, à vontade de fazer a diferença na vida de alguém.

Aproveitem as pessoas que estão ao seu lado! Elas não estarão lá para sempre!

Beijos a todos

domingo, 14 de agosto de 2011

Feliz dia dos Pais!!!

Hoje, dia dos pais aqui no Brasil. Sempre tive os 2 pés atrás com essas datas comemorativas: dia dos pais, das mães, das avós... Tudo soa como uma bela jogada comercial. Sempre adotei o discurso de que "todos os dias são dos pais e das mães". Maturidade traz mudança. Percebo, hoje, depois de passar o dia das mães longe da minha, e tendo agora a oportunidade de estar ao lado do meu pai no dia dele, que precisamos, sim, de certas lembranças de quão importantes são alguns anjos na nossa vida. Do quanto eles fazem falta. E de quem realmente importa e nos ama incondicionalmente.

Te amo, papito! Você, junto com a mamusca, Carol e João, são meu Porto Seguro, meu pedaço mais bonito!

Não prolongarei meu discurso. Em troca, deixo um e-mail que meu pai me mandou enquanto eu estava na Irlanda. Um dos que mais mexeram comigo e um dos mais inesquecíveis! Um viva à sabedoria! Meu pai é lindo! =)

Boa semana a todos!

"Oi, filha, boa tarde.

(...) Vocês sempre dizem que eu não falo do meu passado. Lendo sua mensagem, voltei alguns anos.

A vida é uma continuidade. Aos 15 anos sai de Araxá para morar em Sacramento, fui muito bem recebido, achava Sacramento ótimo e Araxá horrível. Aos 16 anos fui morar em São Paulo. Imagina o mineirin de Araxá e Sacramento conhecendo a maior cidade do Brasil. Estava abobalhado, achando aquilo uma maravilha. Voltei para Araxá, fiquei 2 anos e vim para Brasília. Nestes dois anos conheci sua mãe como namorada, começando uma história que você faz parte. Durante grande parte de minha vida eu não gostava de ser mineiro em função da minha infância difícil em Araxá. Traumas. HOJE eu gosto de ser mineiro e adoro ser brasiliense.


Vamos ao Brasil. Vce sabe mais do que ninguém das minhas reservas quanto ao Brasil, principalmente nossa política nojenta. Nós estamos vivendo um momento interessante de movimentos de libertação no Oriente. Você sabe que são países de cultura mais antiga do que a nossa. Estão derrubando ditadores de mais de 30 anos. O Brasil culturalmente está engatinhando. Eu vivi 64. A coisa já foi pior e só melhorou porque o povo foi pra ruas. Sei que precisamos melhorar muito, mas a maneira que eu achei de melhorar o Brasil foi criando duas filhas conscientes e preparadas para trabalhar por ele.


CONCLUINDO minha opinião: Quem faz um país melhor, são as pessoas que nascem neles. País não é um pedaço de terra, mas pessoas que nós gostamos. Ao invés dos medos que são normais, tente melhorar o que está errado. Talvez o BRASIL esteja precisando de você e outros tantos jovens que tem a oportunidade de fazer o intercambio que você esta fazendo.


(...) Um conselho de Pai: Consertar o ontem, não tem jeito, viver o amanhã, impossível. Viva o hoje sem medo. E coragem você já mostrou que tem muita.

Parabéns pelos seis meses

Saudades. Um beijo

sábado, 23 de julho de 2011

Mais do mesmo...

Cabeça vazia, oficina do diabo! Por que será que minha cabeça segue essa máxima com tanto afinco? Às vezes acho que chegará o dia em que eu simplesmente perderei toda a minha capacidade de pensar, pura e simplesmente por excesso de uso! Justo se assim o for, porque admito que tenho pensado tanto que às vezes até eu mesma canso de mim!

Estou de volta! Entenda como quiser, porque qualquer significado fará jus à verdade. Estou de volta da Disney, da viagem mágica ao lugar mais mágico do mundo. Estou de volta da Irlanda, finalmente me sentindo mais aqui que lá, entendendo cada dia mais o quanto meus pensamentos e sentimentos podem se camuflar dentro de mim, e separando o real do que foi criado pela minha cabeça confusa e ofuscada pela intensidade dos sentimentos finais. Estou de volta à vida. Me sinto, finalmente, em casa.

A felicidade ainda vem chegando de mansinho. Tem dias que ela explode no meu peito, tem dias que ela ainda dá lugar às lagrimas de tristeza ou agonia, sabe Deus do que. Mas nunca foi diferente, por que logo agora o seria?

A Disney foi uma viagem interna aos meus sentimentos mais íntimos. Minha cabeça não descansou como deveria. Por vários dias ela teimou em trabalhar, junto com o corpo já fadigado pela falta de horas de sono e excesso de trabalho. Derramei mais lágrimas de tristeza do que de cansaço dessa vez. Mas me sentia, a cada gotinha que saía, tirando um peso imenso de dentro de mim.

Hoje sinto meus olhos muito mais abertos para as verdades do mundo: ninguém é perfeito, mas algumas imperfeições me afetam mais que outras; Não se pode confiar em todo mundo, mas há de se acreditar que todos nós temos nosso lado bom, prontinho para despontar em meio a tantos defeitos; Tudo tem volta. Outro dia li que se o mal ou a inveja tivessem uma forma, ela seria a de um bumerangue. Faz todo sentido; Fazer o bem ainda é a melhor opção. Mesmo que você cometa alguns erros, se a intenção é boa, ainda é possível voltar atrás e tentar novamente.

Tenho sentido, nesse exato 1 mês que estou de volta, mais amor do que senti em 10 meses de intercâmbio. O que pode parecer uma constatação amargurada, nada mais é que a realidade de um diagnóstico. Sobra insanidade na falta de amor. Hoje eu entendo isso melhor do que nunca!

Fé em Deus e pé na tábua. A aventura está no seu início. O crescimento também! Se o que não me mata, me fortalece, projeto Hulk 2012 está em andamento! =)

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Lá vamos nós de novo...

Malas prontas! Unhas amarelas (sim, amarelas, da cor do meu grupo =D), colete vermelho, Croc no pé. Aos pouquinhos, vou me sentindo RELP de novo, entrando no clima da viagem que abriu esse blog ano passado, onde eu me encantei e me encontrei, e que me trouxe de volta um pouquinho mais cedo.

As expectativas, admito, já forma um tiquinho maiores. Mas tudo dentro de mim já foi um tiquinho maior. Depois de 2 meses muito conturbados na Irlanda, com as emoções afloradas de uma forma quase incontrolável, sinto que meu corpo (e, principalmente, minha cabeça e meu coração) tiraram rápidas férias. Me sinto... Insensível. Simplesmente não me sinto. Não me encanto, não me envolvo, não vibro. Sorrio com a boca, mas não tanto com os olhos. Me arrumo pra sair, mas meu interior está bagunçado como nunca. Choro, mas minhas lágrimas não me dizem nada.

O brilho nos olhos ainda não voltou. O prazer em comer, em acordar, em ser, também não. Mas a vida começa, aos poucos, a se colorir novamente. A certeza é de que isso, como tantas outras coisas, simplesmente passa. E de que não demorará tanto assim. As lágrimas descem com menos frequência, mas continuam não seguindo qualquer lógica. Hora choro, hora sorrio. E assim vou levando os dias.

Se o que você lê parece trágico demais, drama demais, sensível demais, não se assuste. Me permita, ao menos uma vez, escrever sem a censura de um blog público, sem o medo de olhos alheios, sem medição qualquer de palavras.

Tenho bons pressentimentos em relação a essa viagem. Bons pressentimentos em relação a algumas decisões tomadas. E, principalmente, volto a ter bons pressentimentos em relação ao que a vida me preparou para daqui em diante. Isso, por si só, já é a boa notícia do dia.

Até a volta, cabeça inquieta. Nos próximos 15 dias, você está de férias. Descanse, você merece!

segunda-feira, 27 de junho de 2011

O sonho acabou (?)




Estou sentada embaixo de árvores que permitem que os 30ºC de Brasília fiquem um pouco mais amenos. No meu colo, um prato com a maionese de batata com frango deliciosa da minha tia, picanha ao ponto feita pelo meu pai, arroz e farofa. Para beber, suco de caju. De um lado está minha avó de 89 anos contando que banho frio é o segredo da sua saúde. Do outro, meu sobrinho lindo tendo crises do riso mais gostoso com a minha irmã. À minha frente, minha mãe e minhas tias embalam um papo animado (falado em altos tons, como de costume dessa família tão mineira). Um pouco mais afastado, meu pai exerce seu papel de churrasqueiro oficial da família, sempre atento se eu estou precisando de alguma coisa.

O que pode parecer a muitos como uma típica tarde de domingo, para nós que passamos um tempo fora de casa é um sonho realizado. Quantas e quantas pessoas já não repassaram essa cena tantas vezes em suas cabeças, de como seria a sua volta e quais as primeiras coisas que fariam ou que comeriam, e quais as primeiras pessoas que encontrariam?

Estar de volta é um contraste de sentimentos. É uma contradição constante. É se sentir em casa como nunca, mas é não achar seu lugar. Estar rodeada de pessoas e querer estar sozinha. Ficar sozinha e querer ter pessoas ao seu lado. Não consigo sair de frente do computador, penso em 2 moedas, em 2 horários. Ainda não consigo dormir depois das 22h30, não consigo acordar depois das 7h30. Quando são 10h, me bate uma fome de almoço. E mesmo almoçando às 12h, quando são 14h, lá estou eu com fome de novo.

Procuro o interruptor do banheiro do lado de fora o tempo todo, dirijo batendo minha mão esquerda na porta, procurando a marcha. Sinto mais calor que os outros, bebo água o tempo todo (sempre abrindo a torneira primeiro, antes de lembrar do filtro), acho esquisito usar short sem meia-calça e sair sem carregar um casaco. Estou ainda impressionada com o tanto de roupas e sapatos que tenho. Me senti um homem quando vi minha sapateira pela primeira vez, com o pensamento de "eu sou uma mulher ou uma centopéia?". E a facilidade para encontrar sacolas plásticas em casa? Isso sem falar na geladeira cheia e na quantidade absurda de frutas e verduras.

Tenho me sentido muito bem em Brasília, o que, por si só, já é um susto. Mas as saudades de Dublin... Isso é algo que não me sai da cabeça. Assim como não me esquecerei de diversas cenas e momentos que vivi nesses 10 meses, não me esquecerei das últimas músicas dançadas, das lágrimas que teimavam em descer, do riso chorado com o Ulgem e o Eric, da noite mais bunitinha, dos últimos abraços... Não me sairá da cabeça a sensação de vazio que ficou logo em seguida à despedida, o choro engasgado quando o avião pousou no Rio de Janeiro, a sensação de que "o sonho acabou".

O sonho não acabou. Ele só se tornou realidade. Hoje trago no coração pessoas que posso nunca mais ver, mais que ocupam um lugar muito especial na minha vida. Trago as lembranças da chegada, do amor que há muito tempo não sentia tão forte, da paciência inacabável dos meus pais e minha irmã, da evolução não acompanhada do meu sobrinho, da esperança de um novo bebê chegando por aí.

A sensação ainda é de dor. Dor em lembrar, dor em se falar, dor em tentar esquecer. Assim como dói não se sentir completamente em casa, não ter muita vontade de encontrar com as pessoas, não ter coragem de deixar a Irlanda pra trás. Mas nada que o tempo não resolva. Ninguém disse que seria fácil. E não está sendo. Mas, se me pedissem, faria tudo de novo. E de novo. E de novo...

* Fotos by Fernando Mesquita

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Em clima de despedida...

Cada dia que passa acredito mais que bobos são aqueles que não destinam 30 minutinhos dos seus dias para escrever um diário. O ser humano é tão complexo cientificamente, psicologicamente e em todos os -mentes possíveis, que não consigo acreditar que possa existir ao menos um indivíduo cuja vida não gere um diário digno de virar um best-seller mundial.

Mais do que isso, seguimos sempre a máxima de que "a grama do vizinho é mais verde", então sempre esse ano está fazendo mais calor que ano passado, está chovendo mais que ano passado, estou trabalhando mais que nunca, este término foi o pior de todos, os jovens estão mais perdidos que antes... Será que a existência de um diário não seria a prova cabal que essas comparações absurdas são apenas fruto do nosso imaginário, tentando fazer nos sentir mais miseráveis e com mais motivos para reclamar, ao invés de simplesmente vivermos o que nos aparece e tirar o máximo proveito disso?

Eu, particularmente, sempre quis dar início a esse projeto. Assumo que o único motivo que me manteve afastada de sua realização foi a preguiça. Preguiça de sentar para escrever, preguiça de relembrar os fatos, preguiça de reler isso anos depois. Este blog que aqui está foi mais uma tentativa de colocar essa idéia em prática. Claro que, pelo fato de a internet ser um domínio público, muitos dos meus sentimentos e muitas das minhas vivências precisaram ser suprimidos em mensagens subliminares para mim mesma, escondidas em palavras ou fotos que, tenho certeza, mesmo após muitos anos, ainda estarão vivas na minha memória.

Admito que fui muitas vezes relapsa com minha idéia, principalmente no último mês. Mas qual a função de fazer algo para você mesmo, se os seus sentimentos e vontades (ou falta delas) não forem respeitados, não é mesmo?

Fiz o blog, sim, para manter mais estreitos os laços com quem ficou, mas, principalmente, o fiz para nunca esquecer dos 10 meses mais diferentes que eu já vivi. Não direi que foram os mais intensos, os melhores, os que mais cresci. Mesmo que eu concorde com algumas dessas afirmações. Como já disse, estou lutando contra a máxima da "grama do vizinho".

Hoje admito que sinto imensa falta de um diário completo dos dias pré-viagem, ainda no Brasil. Sinto falta de ler minhas palavras expressando o que se passou pela minha cabeça. Sei que alguns posts aqui foram feitos nesse período, mas acho que fui, em certa parte, displicente em relação ao quanto esse recordatório poderia me ajudar agora.

A sensação de estar voltando é a mais esquisita possível! Ao mesmo tempo que não vejo a hora de ir embora, tenho olhos de saudades quando olho para as pessoas queridas que conheci, quando lembro dos momentos inesquecíveis que vivi, quando passo pela cidade que tão bem me acolheu nos últimos 10 meses.

Dublin foi meu lar, minha cidade, meu refúgio. Sempre que viajava, voltava me sentindo bem por estar em casa de novo, porque é assim que me senti aqui: Lar, doce lar.

Essa viagem trouxe para a minha vida franceses, belgas, suíços, eslovacos, irlandeses, poloneses, espanhóis, italianos, húngaros... Mas trouxe também paulistas, cariocas, mineiros, potiguar, gaúchos, recifenses e tantas outras pessoas de estados diferentes que me deram a certeza de que eu amo o povo brasileiro e o Brasil mais que tudo!

Eu aprendi a respeitar e lidar um pouco melhor com as diferenças. Mas, acima de tudo, tenho aprendido (é um looooooongo processo, acreditem) a respeitar as MINHAS diferenças, as MINHAS limitações. Tenho entendido quão pequena mas quão grande eu sou. Tenho entendido porque meus pais sempre me ensinaram a não mentir, a não passar por cima dos outros, a não querer o mal de ninguém. Mais uma vez, esse é um processo longo, mas acho que estou no caminho certo.

Falando em caminho, tenho aprendido que sempre é tempo de recomeçar, de voltar e seguir um novo trajeto. Que desistir às vezes não é sinal de fraqueza. Pelo contrário, pode ser a atitude mais difícil e corajosa que alguém tem que tomar.

Essa viagem me ensinou que posso sobreviver sem meus amigos e minha família. Mas que essa é a última coisa que quero para a minha vida. Que pobres os que não podem contar e confiar nas pessoas. Que eu confio em todo mundo e isso já me machucou muito, e tem potencial pra machucar muito mais, mas eu ainda prefiro acreditar na bondade das pessoas a achar que não vale mais a pena lutar.

Hoje posso falar que dou muito mais valor à minha família. Que eles são a minha vida! E que posso me considerar um pessoa muito feliz por saber que, além deles, tenho AMIGOS de verdade, que nunca me abandonaram. E que nunca o farão. Entendi também que esses são em número bem menor do que eu imaginava, mas que isso não é ruim. Todo mundo precisa de família, amigos e conhecidos. Cada um tem seu papel na nossa vida. E cada papel tem sua importância.

Quero muito chegar em Brasília e abraçar meus pais, sentir o cheirinho do meu sobrinho, rever minha irmã, conversar até de madrugada com meus amigos. Mas queria muito pular os dias até lá, principalmente a quarta-feira. Nunca odiei despedidas. Hoje entendo que nunca soube o que é uma despedida. Tenho passado por mais coisas neste último mês que passei em muito tempo aqui. Espero que um dia eu entenda o sentido de tudo. Mas, querem saber? Se tem algo que eu aprendi, foi que, cedo ou tarde, a gente sempre entende...