"Fábio* era um garoto comum. Brasileirinho, jogava futebol como só ele. Talvez sua baixa estatura e seu peso mirrado o ajudassem a ser ágil e passar por entre seus amigos como um raio.
Sofria de TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade) e, junto com os remédios controlados, o esporte era seu maior aliado para gastar um pouquinho de tanta energia acumulada. Corria o quanto pedissem a ele, pulava na altura que quisesse, tinha extrema habilidade com esportes com bola. Definitivamente, "levava jeito para a coisa", como diziam seus professores de Educação Física.
Era popular na escola. Por onde passava, era conhecido e reconhecido por seus colegas e professores. Talvez pela sua desinibição, talvez pela sua TDAH, falava muito alto, estava sempre articulando algum comentário (mesmo quando não autorizado), paquerava as meninas, zombava dos meninos e preparava sua lista de frases sarcásticas para responder às constantes reclamações dos professores em relação ao seu comportamento inadequado.
Fábio não era como seus colegas. Estudava em um colégio que era orgulhoso de se considerar inclusivo. Um colégio que aceitava crianças com síndrome de down, hiperativas, cadeirantes e com transtornos. Um colégio conhecido pela educação de seus alunos, pelo carinho e amor com que eles tratavam seus colegas especiais. Um colégio com professores orgulhosos de seus pupilos, mas cansados de lidar com a indisciplina constante de Fábio, o único aluno que lhes dava problemas. Ele era violento, bradava palavras chulas sem pensar, batia nos colegas que não o respeitassem, atentava contra as meninas com rótulos e provocações.
Fábio NÃO era como seus colegas. Quando muito novo, foi adotado por Vânia* e João*, um casal feliz, mas divergente em relação à sua vontade de ter filhos. Foi Vânia quem o quis, foi ela quem bateu o pé a favor da adoção, já que a vida e a natureza não a permitiram conceber seu próprio rebento. João, por amor (à Vânia, não a Fábio ou às crianças) cedeu, e juntos constituíram uma família.
Poucos anos mais tarde, em uma peça pregada pelo destino, Vânia sofre um acidente e fica em estado vegetativo em uma cama de hospital, deixando Fábio, muito novo, aos cuidados e sob a guarda de João. Nunca passou pela cabeça do pai devolver a criança, mas também nunca lhe passou pela cabeça amá-lo como deveria. E assim Fábio foi (sobre) vivendo.
Pouco tempo depois, aparece Virgínia* na vida de João. O sofrimento pela perda de Vânia ainda era grande, mas Virgínia, aos poucos, vai conquistando seu lugar no coração do homem, e, posteriormente, na sua casa. Os dois dividiam tudo: o teto, a cama, as dívidas e, acima de tudo, a falta de amor por crianças.
Fábio definitivamente não era como seus colegas. Ele não sabia mais o que era amor. Ele apanhava em casa sempre que fizesse coisa errada, coisa certa, qualquer coisa. Sua comunicação com seus "pais", quando acontecia, era sempre no grito. Sua história, antes tão cheia de esperanças, foi sendo pintada de preto por "pais" que não souberam amá-lo. Sua escola era o único lugar aonde ele recebia atenção e cuidado, mas ele já não sabia mais diferenciá-los de tantos gritos e violência. E a criança pura acabou por se tornar um adolescente em amargura. O que será deste adulto?"
A história acima poderia ser fictícia. Mas não é. Ela pertence a um ex-aluno meu (com nomes devidamente trocados), que tinha 12 anos na época que eu lhe dava aula. Fábio* me ensinou que o ser humano é, sim, um espelho do mundo. Que a criança não tem culpa dos seus atos e que não se deve julgar atitudes sem entender a história.
O atentado de ontem à escola do Rio foi contra o Brasil. Aqui fora todos estão comentando e me perguntando o que está acontecendo. E aí dentro, por meio de Facebooks, Twitter e Redes Sociais diversas, só vejo ira e julgamento em relação ao autor.
Não importa sua religião. Todas as crenças do mundo defendem o perdão, o amor e a compaixão como base para uma sociedade mais limpa e mais humana. Me pergunto, então: Aonde estão os religiosos e crentes em Deus, que sempre levantam a bandeira da oração, mas na primeira provação, publicam mensagens ofensivas que defendem a punição, às vezes pelas próprias mãos?
Faço, de tão longe, o meu apelo: deixem os sentimentos negativos para as famílias que estão em tanta dor e têm o direito de se permitirem sentir o que vier. Lembrem-se que, infelizmente, nem todos os cidadãos tem o privilégio de crescer em ambientes familiares saudáveis e repletos de amor. E tentem praticar o perdão, e rezar, mentalizar, emitir ou seja lá o que sua crença permite, pela alma do menino de 23 anos que teve razões que a própria razão não explica.
Lembrem-se que este menino matou 12, mas nossos políticos que roubam nossos impostos que deveriam ir para saúde, alimentação e educação, matam milhares e milhares todos os dias, e criam mais outros milhares de autores de massacres. É deles que deve ser cobrada uma mudança. E é de nós que essa cobrança precisa vir.
O post de hoje não ficará muito tempo. Amanhã ou, no máximo domingo, faço um último post antes de viajar. Mas precisava fazer este desabafo que ficou tão marcado na minha cabeça desde ontem.
PAZ e BEM, meus amores!
Sofria de TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade) e, junto com os remédios controlados, o esporte era seu maior aliado para gastar um pouquinho de tanta energia acumulada. Corria o quanto pedissem a ele, pulava na altura que quisesse, tinha extrema habilidade com esportes com bola. Definitivamente, "levava jeito para a coisa", como diziam seus professores de Educação Física.
Era popular na escola. Por onde passava, era conhecido e reconhecido por seus colegas e professores. Talvez pela sua desinibição, talvez pela sua TDAH, falava muito alto, estava sempre articulando algum comentário (mesmo quando não autorizado), paquerava as meninas, zombava dos meninos e preparava sua lista de frases sarcásticas para responder às constantes reclamações dos professores em relação ao seu comportamento inadequado.
Fábio não era como seus colegas. Estudava em um colégio que era orgulhoso de se considerar inclusivo. Um colégio que aceitava crianças com síndrome de down, hiperativas, cadeirantes e com transtornos. Um colégio conhecido pela educação de seus alunos, pelo carinho e amor com que eles tratavam seus colegas especiais. Um colégio com professores orgulhosos de seus pupilos, mas cansados de lidar com a indisciplina constante de Fábio, o único aluno que lhes dava problemas. Ele era violento, bradava palavras chulas sem pensar, batia nos colegas que não o respeitassem, atentava contra as meninas com rótulos e provocações.
Fábio NÃO era como seus colegas. Quando muito novo, foi adotado por Vânia* e João*, um casal feliz, mas divergente em relação à sua vontade de ter filhos. Foi Vânia quem o quis, foi ela quem bateu o pé a favor da adoção, já que a vida e a natureza não a permitiram conceber seu próprio rebento. João, por amor (à Vânia, não a Fábio ou às crianças) cedeu, e juntos constituíram uma família.
Poucos anos mais tarde, em uma peça pregada pelo destino, Vânia sofre um acidente e fica em estado vegetativo em uma cama de hospital, deixando Fábio, muito novo, aos cuidados e sob a guarda de João. Nunca passou pela cabeça do pai devolver a criança, mas também nunca lhe passou pela cabeça amá-lo como deveria. E assim Fábio foi (sobre) vivendo.
Pouco tempo depois, aparece Virgínia* na vida de João. O sofrimento pela perda de Vânia ainda era grande, mas Virgínia, aos poucos, vai conquistando seu lugar no coração do homem, e, posteriormente, na sua casa. Os dois dividiam tudo: o teto, a cama, as dívidas e, acima de tudo, a falta de amor por crianças.
Fábio definitivamente não era como seus colegas. Ele não sabia mais o que era amor. Ele apanhava em casa sempre que fizesse coisa errada, coisa certa, qualquer coisa. Sua comunicação com seus "pais", quando acontecia, era sempre no grito. Sua história, antes tão cheia de esperanças, foi sendo pintada de preto por "pais" que não souberam amá-lo. Sua escola era o único lugar aonde ele recebia atenção e cuidado, mas ele já não sabia mais diferenciá-los de tantos gritos e violência. E a criança pura acabou por se tornar um adolescente em amargura. O que será deste adulto?"
A história acima poderia ser fictícia. Mas não é. Ela pertence a um ex-aluno meu (com nomes devidamente trocados), que tinha 12 anos na época que eu lhe dava aula. Fábio* me ensinou que o ser humano é, sim, um espelho do mundo. Que a criança não tem culpa dos seus atos e que não se deve julgar atitudes sem entender a história.
O atentado de ontem à escola do Rio foi contra o Brasil. Aqui fora todos estão comentando e me perguntando o que está acontecendo. E aí dentro, por meio de Facebooks, Twitter e Redes Sociais diversas, só vejo ira e julgamento em relação ao autor.
Não importa sua religião. Todas as crenças do mundo defendem o perdão, o amor e a compaixão como base para uma sociedade mais limpa e mais humana. Me pergunto, então: Aonde estão os religiosos e crentes em Deus, que sempre levantam a bandeira da oração, mas na primeira provação, publicam mensagens ofensivas que defendem a punição, às vezes pelas próprias mãos?
Faço, de tão longe, o meu apelo: deixem os sentimentos negativos para as famílias que estão em tanta dor e têm o direito de se permitirem sentir o que vier. Lembrem-se que, infelizmente, nem todos os cidadãos tem o privilégio de crescer em ambientes familiares saudáveis e repletos de amor. E tentem praticar o perdão, e rezar, mentalizar, emitir ou seja lá o que sua crença permite, pela alma do menino de 23 anos que teve razões que a própria razão não explica.
Lembrem-se que este menino matou 12, mas nossos políticos que roubam nossos impostos que deveriam ir para saúde, alimentação e educação, matam milhares e milhares todos os dias, e criam mais outros milhares de autores de massacres. É deles que deve ser cobrada uma mudança. E é de nós que essa cobrança precisa vir.
O post de hoje não ficará muito tempo. Amanhã ou, no máximo domingo, faço um último post antes de viajar. Mas precisava fazer este desabafo que ficou tão marcado na minha cabeça desde ontem.
PAZ e BEM, meus amores!
Lindo post, Mandinha.
ResponderExcluirEu fui uma das que gritei, chorei e xinguei esse rapaz que matou as crianças, mas agora pensando, vejo que você tem razão. Ainda não consigo "engolir" o que ele fez. Não vejo motivo para matar 12 inocentes crianças, mas não vem a mim julgar... E realmente, enquanto políticos matam milhares por furtar dinheiro ou não investir no que deveria ser investido, a gente não faz nada, fica acomodado com a situação... Triste...
Boa viagem. Curta bastante!!!
Beijos
Amandinha, que beleza! Estou muito orgulhosa de vc. Tragédias como esta nos fazem pensar:Estamos fazendo a nossa parte para construir um mundo melhor? È fácil ficar sentados em nossas salas ,frente à tv,julgando e condenando sem a menor compaixão.Que possamoos semear mais AMOR e não colocar mais lenha na fogueira do ódio.
ResponderExcluirQue Deus nos abençoe a todos!
Cara, sonhei que você era presidente. Boa sorte nas próximas eleições =D.
ResponderExcluirBeijo,
Filha querida, não me surpreende ler uma coisa tão profunda e tão verdadeira vinda de você, mas me orgulha ainda mais de sabê-la tão cônscia das coisas e com um olhar realmente diferente. É este olhar que precisamos ter para com todos os seres, porque todos somos "Divinos" e somos UM SÓ. Sei que é difícil para a maioria das pessoas pensar assim, mas o mundo só vai se modificar quando conseguirmos enxergar o UNO e não o individual. É preciso realmente ver além, ver através de, e fazermos a cada dia o exercício do não julgamento. Sei que é muito difícil, pq julgamos a todo instante, e julgamos sumariamente. Mas um dia haverá em que aprenderemos isto e o mundo será muito diferente. E esta sua manifestação é muito importante para tocar nossos corações de forma diferente. Às vezes quando defendo este pensamento, ouço coisas como: vc diz isto porque não é um de sua família, mas no real, todos somos a mesma família, todos "SOMOS UM SÓ". E isto não sou eu quem estou dizendo, foi dito há mais de 2000 mil anos atrás.
ResponderExcluirParabéns filha querida, e continue assim, a enxergar as verdadeiras razões dos acontecimentos. Te amo muito.
Uma viagem muito feliz pra vocês, que tenho certeza, será inesquecível. Este trio é do peru!!!!
Obs. Já coloquei seu dimdim na sexta. Bjs. com amor e saudades. Mamy