22/06/2011
Acordo depois de uma
noite delicinha, olho lá pra fora. Chuva! Qual a novidade, em se tratando do
clima irlandês? Respira fundo: Chegou o dia!
Tomo banho. Dá pra
imaginar que este será o meu último banho aquecido por um boiler? Que estranho...
Lavo o cabelo, lavo o corpo. Olho praquele chuveiro e aquele box como se
tentasse esmagar as imagens na minha memória, bem apertadinhas pra elas não
saírem de lá.
Vou na sala daquele
apartamento que foi meu por alguns meses, naquele em que vivi histórias tão
inesquecíveis... Calma! Hora de me arrumar! Ainda não é hora de despedidas (já
bastam as de ontem! Nem eu sabia que eu tinha tantas lágrimas). Visto a roupa
que já está separada há tanto tempo, em cima das minhas malas já feitas há 2 semanas.
Seco o cabelo, faço a maquiagem. Droga de lágrimas que chegaram sem avisar!
Chora, chora, chora! Respira e refaz a maquiagem!
Chega a Mari com o
Rodrigo. A Mônica tá pronta! O Leandro está pra chegar. Chama os táxis. Desce
com as malas. Sem lágrimas dessa vez. O momento é de silêncio.
Coloco as malas no táxi.
O Leandro tá atrasado. Nem consigo ficar brava. Até desse jeitinho largado eu
vou sentir falta. Ele chega. Entramos no táxi. Não tenho muito assunto. Não
tenho muita vontade de conversar. Quero só olhar. Cada casa, cada chaminé, cada
pedacinho pelo qual eu passei tanto nos últimos meses e que hoje passam pelos
meus olhos deixando uma sensação esquisita. Mais uma vez meus olhos tentam
gravar cada cena, cada detalhe. Ainda é difícil acreditar que aquela viagem
no táxi é sem volta...
Chegamos no aeroporto
e o clima é descontraído. Almoçamos qualquer coisa. Passa longe de ter sido a
melhor comida da minha vida, mas eu passo longe de estar sentindo o gosto das
coisas. Conversamos um pouco, rimos um pouco e de repente chega a hora de me
despedir e, com ela, a sensação esmagadora, a vontade de me agarrar à primeira
coluna à minha frente e desistir de ir, o medo, a insegurança... A falta de
vontade e de coragem de me despedir.
As lágrimas agora
teimam em descer em cascata. Elas já não chegam mais acanhadas. Agora descem
sem medo, constantes, aumentando o nó na garganta. Me afogo em abraços com a vã
esperança de que eles vão diminuir minha dor. Não diminuem. Só aumentam, por
pensar que não terei mais aqueles braços, aqueles cheiros, aqueles refúgios.
Entro na sala de embarque chorando compulsivamente, eu e Mari nos sentamos na
cadeira por 3 minutos, apenas para respirar e tentar entender tudo que está
acontecendo. Acabou...
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22/06/2012
Em um certo dia do ano passado ouvi uma frase que me assombrou por certo tempo: "Quem faz intercâmbio nunca mais é plenamente feliz". Por dias, semanas e até meses acreditei em cada palavra desta sentença, pelo único motivo de estar vivendo na pele a veracidade delas. Cheguei realmente a acreditar que havia deixado minha felicidade no avião da volta, no abraço de despedida, no táxi que me levou ao aeroporto. Lembrei de cada casa, detached ou semi-detached que passou na minha frente na minha última viagem de carro dentro da cidade que me acolheu por tanto tempo. Cada olhar atento meu, como se tentando pescar o máximo possível de detalhes, como se querendo tornar aquele momento eterno. Sentia como se cada uma dessas residências tivesse levado um pedacinho da minha alegria, da minha esperança de dias melhores, da minha ânsia em fazer acontecer!
Hoje vejo o mundo com lentes mais coloridas, com um otimismo que aos poucos volta a me acompanhar em meus passos. Reencontrei boa parte das pessoas que deixei, com tanto pesar, para trás. Outras ainda não encontrei, mas mantive o contato que me garante que ainda nos veremos bastante nessa vida. Vivi reencontros emocionantes, uns talvez mais esperados e fantasiados que outros, mas todos que deixaram a sensação de a despedida ter sido há muito menos tempo, ou mesmo nem ter acontecido. Como se a quebra de 7, 8, 9 meses não houvesse feito tanta diferença assim, ou tenha feito diferença sim, mas pra melhor. Muito melhor!
Hoje a maioria das pessoas que figuram nos topos das minhas listas de mensagens, sejam elas da tecnologia que for (Facebook, Whatsapp, skype...), são oriundas dos meus 10 meses mágicos. As minhas viagens são pensadas com o objetivo de (re)vê-los. Meus planos são feitos com eles. Meu futuro se desenha unindo, acidentalmente ou não, meu destino ao deles.
1 ano...
E que ano!!!! As lágrimas e a angústia ficaram pra trás. Hoje só tenho tempo e motivos pra sorrir!!!!
A Irlanda? Essa é eterna na minha vida e no meu coração! E ela não acaba nunca. A cada dia que passa sinto mais que ela só começou...
1 ano de Brasil! Parabéns pra mim! Parabéns pra vida, que é tão linda comigo! Vamos comemorar!!!